terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Lua nova em Escorpião

E então hoje (28/10/08), à noite, a Lua encontra-se como Sol, ambos em Escorpião. Lua nova.

Tradicionalmente, o período da Lua nova é bom pra gente iniciar coisas novas: um trabalho, uma dieta (ainda mais que a Lua está associada à alimentação), conhecer gente nova, cortar o cabelo (se o objetivo for mudar o visual, com certeza.)
Este é um período bacana pra lançar as sementes (me desculpem a falta de uma expressão mais original) e esperar que elas atinjam sua plenitude, daqui a 14 dias, quando ela estiver cheia, no signo de Touro.

Mas o que podemos pensar sobre Sol e Lua juntos em Escorpião? (e tem ainda Marte, mais a frente.)

Escorpião rege os processos de morte e renascimentos, como a semente (de novo) que morre para que o fruto possa nascer. Ou um fruto que apodrece, alimentando os milhares de minúsculos seres que não enxergamos a olho nu.
E rege também nossos impulsos mais fortes, nosso desejo compulsivo por alguém ou alguma coisa, o sexo desvairado, o ciúme transloucado, a dor e o êxtase que experimentamos com um nascimento ou uma morte.
De novo: um orgasmo muito intenso quando, simbolicamente, morremos um pouco no outro.

Então essa Lua nova é um momento interessante pra entrarmos em contato com nossa face mais obscura, uma chance pra trazermos à tona aquilo que guardamos e nem sabemos por quê. Uma paixão, uma mágoa, um riso louco ou um choro de lavar a alma.
"Valeu a pena?/ Tudo vale apena se a alma nõa é pequena" (desculpem, adoro isso.)

Do ponto de vista mais pragmático, aquilo que iniciarmos hoje tem de considerar a paixão implícita de nossos atos, e apostar na profundidade de suas consequências.

Sabem o riso louco do Coringa, de Heath Ledger? Algo próximo daquilo. Ou o magnetismo de Marlon Brando, em "Último Tango em Paris"

Pra terminar, um poema bem escorpiônico, de outro escorpião dos bons: Carlos Drummond de Andrade:


Amor, pois que é palavra essencial

Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

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