terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A viagem de Chihiro I - comer, beber, viver


Acho "Viagem de Chihiro" bom demais. Revi-o outro dia e parecia uma lição lisérgica de simbolismo astrológico. A ver.
Se tomarmos a protagonista como o arquétipo do herói, notamos que no princípio do filme logo ela está em transição, em crise. Chihiro está mudando de cidade e sente saudade dos amigos e daquilo que conhecia. São aspectos que a ligam ao passado e às suas origens, ou seja, lunares.
Assim, quando seu pai - um belo exemplar de impulsividade jupiteriana sem limites - decide se aventurar numa "cidade abandonada", Chihiro não desgruda da mãe (Lua de novo) e pede para voltar. Mas um delicioso cheiro de comida atrai seus pais, que começam a fartar-se de maneira bizarra dentre os alimentos que surgem numa barraca. Aqui, num outro enfoque, repete-se a Lua no seu nível mais concreto, como alimentação/nutrição; Contudo, a família (a configuração lunar mais acabada) está em crise "gastronômica" e, implicitamente, emocional - assim como Chihiro.
Interessante notar que a punição dos pais pela gula desmedida é o retorno ao estado animal, onde há a ausência da razão (Sol) e predomínio dos instintos (Lua.)
E como a protagonista (re)age? Grita pela mãe, grita de novo. E começa a sumir... quer coisa mais evasiva do que literalmente desaparecer? Salve Netuno.
Chihiro se salvou por não ter comido, mas para sobreviver nesse mundo psico-fabulesco terá de comer alimento feito ali.
Retomando: a crise lunar já sugerida no princípio da história aprofunda-se na separação da própria família e no seu esforço por sobreviver - outra função lunar.
Para isso, ela terá de trabalhar (simbolicamente, Saturno: submeter-se às condições impostas exteriormente) e mudar de nome. Aqui algo notável: a noção identitária (sintetizada pelo próprio nome) é posta em questão. "Ter seu nome sequestrado por outrém" é como perder sua própria individualidade. Chihiro vira Sen. Mas é advertida pelo seu amigo, Mestre Haku: jamais se esqueça dele.
Então o Sol, que até então estava em segundo plano, entra em cena, junto com Saturno. Este, por sua vez, vem na forma de trabalho pesado. Limpeza. Quase literal: ela vai ter de lavar a sujeira, a merda mesmo, na casa de banhos para espíritos onde Yubaba, outro arquétipo lunar decaído, manda e desmanda.
Assim, para salvar e des-envolver seu potencial solar, ela terá de passar pelos testes de Saturno.
Limpar merda espiritual, esse é o primeiro desafio de Chihiro...
Fantástico.

Continua

2 comentários:

Anita P. disse...

Pedro, a Viagem de Chihiro também me encanta. Gostei da sua interpretação. Você estuda astrologia? Tenho um blog, o GroovyCrochet, apareça para uma visita. =]
Bjoka!

júlia disse...

curioso isso tudo, pedrito. eu uma vez, uns dois anos atrás, comecei umas anotações sobre chihiro onde eu falava justamente do quê? da estrutura que a história tem do herói épico! que não se sabe herói e tem de passar por uma série de provações até ser e se ver naquilo que é: herói. tudo a ver com o sol, pois é, coisa que eu nunca teria pensado sem ti. beijinho

ps, tira essa cor verde terrível pedro pelo amor dosol